domingo, 27 de dezembro de 2015

Hora 19:26 por Unknown na categoria ,    Sem comentários

O IMPORTANTE na meditação é o estado da mente e do coração. Não é o que alcançais ou dizeis alcançar, mas o estado da mente que é inocente e vulnerável. Pela negação encontra-se o estado positivo. O mero esforço para juntar experiência ou nela viver, nega a pureza da meditação. A meditação não é um meio que leva a um fim. Ela é meio e fim. Mediante a experiência a mente nunca se tomará inocente. A negação da experiência é que faz nascer o estado positivo da inocência, que não pode ser cultivado pelo pensamento. O pensamento nunca é inocente. A meditação é a terminação do pensamento, mas não por parte do meditador, porque o meditador é a meditação. Sem a meditação, sois como um homem cego num mundo cheio de beleza, de luz e de cores.



Caminhai pela praia e deixai vir a vós o estado meditativo. Se ele vier, não o cultiveis. O que se cultiva se tornará a memória do que foi, e o que foi é a morte do que é. Ou, ao perambulardes pelos montes, deixai que tudo vos fale da beleza e da dor da vida, de modo que possais despertar para vosso próprio sofrimento e sua terminação. A meditação é raiz, planta, flor e fruto. São as palavras que separam o fruto, a flor, a planta e a raiz. Nesse estado de separação, a ação não cria bondade; virtude é percebimento total.

Era uma estrada longa e sombreada, arborizada de ambos os lados - uma estrada estreita que coleava através dos verdes e luzentes trigais, já a amadurecer. O Sol fazia sombras fortes,e as aldeias existentes em ambos os lados da estrada eram sujas, mal conservadas, flageladas pela pobreza. As pessoas de mais idade tinham o aspecto doente e triste, mas as crianças gritavam e brincavam na estrada, atirando pedras nas aves pousadas no alto das árvores. Naquela fresca e deliciosa manhã vinha dos montes uma amena viração.

Os papagaios e os mynahs (1) faziam naquela manhã muita algazarra. Os papagaios mal se podiam ver entre as folhas verdes das árvores; nos tamarindeiros eles tinham buracos, que eram suas moradas. Seu vôo em ziguezague era sempre cheio de gritos rouquenhos. Os mynahs, bastante mansos, andavam pelo chão. Deixavam a gente chegar bem perto deles, e só então alçavam vôo. O dourado papa-moscas, de plumagem auriverde, estava pousado nos fios, do outro lado da estrada. Era uma bela manhã, e o Sol ainda não tinha esquentado demais. Pairava no ar uma bênção e a paz que precede o despertar do homem.

Por aquela estrada ia passando um veículo puxado por um cavalo, de duas rodas e um tablado com quatro varas e uma coberta de lona. Nele, atravessado entre as rodas e envolto num pano branco e vermelho, era conduzido um morto para ser incinerado à margem do rio. Ao lado do cocheiro, estava sentado um homem, um parente talvez, e o corpo ia aos sacolejos, por aquela estrada nada suave. Vinham de bem longe, pois o cavalo estava banhado em suor; o corpo percorrera toda aquela distância, às sacudidelas, e já devia estar completamente hirto.

O homem que nos visitou mais tarde, naquele dia, disse ser instrutor de artilharia na marinha. Veio com a mulher e dois filhos e parecia muito sisudo. Após as saudações, disse que desejava encontrar Deus. Não articulava bem as palavras, talvez por timidez. As mãos e o rosto revelavam habilidade, mas notava-se uma certa dureza na voz e no olhar pois, afinal de contas, ele era um instrutor de métodos de matar. Deus parecia estar tão remoto de suas atividades cotidianas! Até parecia sobrenatural: ali estava um homem que se dizia seriamente empenhado na busca de Deus e, entretanto, para ganhar o sustento, era forçado a ensinar aos outros a arte de matar.

Disse ser religioso e haver percorrido muitas das diferentes escolas desses homens chamados santos. Estava insatisfeito com todos e agora fizera uma longa viagem, de trem e de ônibus, a fim de avistar-se conosco, pois desejava saber como atingir aquele mundo maravilhoso que os homens e os santos sempre procuraram. A mulher e os filhos mantinham-se sentados, muito calados e respeitosos; e, do lado de fora, num galho pertinho da janela, estava pousada uma rola marrom-claro, a arrulhar baixinho para si mesma. Nem sequer uma olhada o homem lhe deu, e as crianças e a mãe continuavam sentadas, muito eretas, nervosas e sem sorrir.

Não se pode achar Deus; não há caminho para Ele. O homem inventou muitos caminhos, muitas religiões, muitas crenças, salvadores e instrutores, que crê o ajudarão a achar a felicidade eterna. O lamentável da busca é que ela conduz a uma certa fantasia mental, uma certa visão que a mente projetou e mediu pelas coisas conhecidas. O amor que ele busca é destruído por sua maneira de vida. Não se pode ter um fuzil numa mão e Deus na outra. Deus se tornou apenas um símbolo, uma palavra que, com efeito, perdeu sua significação, porque as igrejas e os lugares de devoção a destruíram. Naturalmente, se não credes em Deus, sois igual ao crente; ambos sofreis e estais sujeitos às aflições
de uma vida curta e vã; e as amarguras de cada dia tornam a vida uma coisa sem significação. A Realidade não se encontra no fim da corrente do pensamento, e o coração vazio se enche com as palavras do pensamento. Tornamo-nos muito aptos, inventamos novas filosofias e depois sofremos a amargura de vê-Ias fracassar. Inventamos teorias de como alcançar a realidade final, e o devoto vai ao templo e se perde no meio das imaginações de sua própria mente. O monge e o santo não encontram aquela realidade, porque ambos pertencem a uma tradição, a uma cultura que os aceita como santos e monges.

A pomba rola foi-se, a voar, e a beleza da montanha de nuvens paira sobre a região - e a Verdade está onde nunca a procuramos.


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